Merdas sérias, a brincar e assim assim. Uma janela para uma realidade que não tem, necessariamente, de ser a tua. Qualquer coisinha, já sabes, avisa.

terça-feira, janeiro 06, 2004

VOCÊS ME TRANSFORMARAM EM BOMBA HUMANA

Por Edna Yaghi


Sou produto de sua tirania. Vocês dissecaram os restos
do meu país, transformaram em pedaços de mocambos urbanos,
guetos e campos de concentração. Cortaram meu suprimento
de água e me deixaram sedenta enquanto vocês, os israelenses,
se banham em piscinas refrigeradas não muito longe de
onde eu moro. Vocês puseram abaixo minhas árvores e profanaram
meus campos, certificando-se de que eu não tivesse como
me sustentar ou àqueles que dependem de mim. Vocês cortaram
os suprimentos médicos que tratam os feridos e em seus
postos de fiscalização vocês prendem e humilham os palestinos
e impedem os que têm grave necessidade de assistência
médica de passarem, o que faz com que meu povo, suas
vítimas, morra em suas fronteiras improvisadas.

Vocês assassinam meus soldados da liberdade enquanto
explicam ao mundo que apenas estão defendendo seus colonos.
Vocês atiram em crianças que, desafiadora e corajosamente,
e em nome da liberdade, empunham pequenas pedras contra
vocês, o inimigo violentamente armado.

Vocês torturam crianças e encarceram os guerreiros da
resistência e tentam subornar ou coagir meu povo a colaborar
contra seu irmão. Vocês derrubam casas e me impedem de
ganhar meu sustento. Seus helicópteros Apache, fabricados
nos Estados Unidos, me matam por controle remoto, e seus
colonos, que se agacham no que sobrou de minha terra,
atiram bombas em minhas casas e no meu caminho, atacam
minhas crianças e mulheres com revólveres e paus e ódio.

Vocês ocupam minha terra e em minhas colinas ensanguentadas
estacionam seus tanques e jipes blindados, para atirar
em cada uma das crianças que brinca nas ruas.

Vocês ocuparam a Casa do Oriente, meu único símbolo de
liberdade, que foi doada por um homem melhor do que todos
os israelenses juntos, enquanto que, ao mesmo tempo,
matam de fome os órfãos, logo do outro lado da rua.

Vocês atiram em minhas cisternas de água e matam os soldados
palestinos, muito embora na época de seus brutais massacres,
estes soldados estivessem patrulhando sua terra ou simplesmente
fazendo sua última ceia. Vocês cortam minha eletricidade
para me assassinarem mais facilmente nas sombras húmidas
de sua negra perfídia.

Vocês são covardes e têm medo das crianças palestinas
com pedras. Vocês nunca as matarão de uma só tacada.
Vocês vagueiam em grupos como matilha de cães selvagens
e vocês são só depravados.

Vocês me deixam, e a meu povo, sem esperança, e quando
me levam para um canto e me privam de tudo o que é humano,
eu reajo com ódio e amargor. Eu amarro explosivos em
meu corpo e procuro por um lugar para me detonar. Sim,
eu mato sua população civil, mas este é o preço que vocês
têm que pagar por me confiscarem direitos inalienáveis,
os direitos concedidos a todos os homens, e pela opressão
demoníaca que vocês impõem sobre meu povo.

É muito simples. Deus criou todos os homens iguais e
ninguém é melhor do que o outro. No entanto, de alguma
forma vocês transformaram isto no protocolo de que os
judeus são melhores do que todos os outros e que vocês
têm o direito de chegar na minha terra, cometer estupros
e saques e ainda esperam que eu agradeça por isto.

Noutro dia, um rapaz estava almoçando. Um de seus colonos
que veio da América, atirou uma bomba na casa desse menino.
Seus dois irmãos morreram imediatamente. Mas o menino
sobreviveu, terrivelmente desfigurado. Seu nome é Amar
Emira. Suas feridas transformaram o que foi um lindo
menino em um ser grotesco que nem se parece com um ser
humano. O que fez esta criança para viver assim horrivelmente
desfigurada?

Vocês fuzilam bebês à queima roupa, enquanto protegidas
nos braços de seus pais, em carros palestinos que se
dirigem para casamentos. Vocês matam crianças indo para
a escola e abatem crianças palestinas que, de mãos vazias,
lutam contra seus exércitos. Uma dessas crianças, Mohammed
Abu Arrar, foi fuzilado e morto quando protestava contra
a ocupação de sua terra. Parentes palestinos do menino
beijaram seu corpo deitado no caixão, antes que ele fosse
levado para ser enterrado em Gaza.

Vocês matam pais palestinos desarmados que cruzam seu
caminho, quando vão comprar material escolar e livros
para seus filhos. Vocês não têm mais desculpas para as
atrocidades que continuam a perpetrar. Vocês bombardeiam
as casas de famílias palestinas, matando instantaneamente
seus ocupantes, e depois dizem que a ação foi de palestinos,
muito embora as casas estivessem longe do palco da batalha
e muito embora os estilhaços de suas bombas feitas pelos
americanos estejam ainda espalhadas sobre as casas demolidas
dos inocentes.

Vocês condenam coletivamente 3 milhões de palestinos,
metade dos quais são crianças, que residem no que foi
deixado de sua própria terra, ainda que vocês saibam
muito bem que o único desejo deles é o de libertar-se
de sua bárbara crueldade.

Vocês dizem ao mundo que desejam a paz, no entanto, em
cada canto, em cada caso, vocês estão tão longe dela,
como se a terra fosse um universo diferente girando em
direção oposta.

Vocês falam de paz pela língua bifurcada de seus atiçadores
de guerra e então se pretendem chocados quando finalmente
um palesino suicida se explode.

Vocês só se livrarão da ameaça das bombas humanas quando
buscarem uma paz justa e abrangente e quando terminarem
com a ocupação dos habitantes nativos da Palestina.


www.geocities.com/ibnkhaldoun_2000/