José Vitor Malheiros, hoje no
público, escreve sobre a polémica proposta de Mário Soares, de que é necessário negociar com a Al-queida. E e fá-lo de forma brilhante. Descomprometido com o ideário belicista e rejeitando que este seja a única via de combate ao terror, mas criticando a forma e o contexto em que aproposta foi afirmada, a certa altura pergunta :
“Alguém pensará com seriedade que, se por hipótese o futuro Senhor Terrorismo da União Europeia recebesse um telefonema de Bin Laden, lhe deveria desligar o telefone na cara? “
A resposta é óbvia. E responde aos que liminarmente afastam a hipótese do combate ao terrorismo pela acção da força política ou social e que defendem a via única - a guerra – como única forma de o combater.
Portanto, não me parece de todo descabida a possibilidade de podermos vir a negociar com organizações terroristas, explorando o potencial de provocar dissidentes, dúvidas nas cúpulas, estatutos de arrependido, enfim, mais que não seja, como diz José Vitor Malheiros, ganhar tempo – todos eles objectivos preciosos num conflito.
Mais do que lançar bombas, é preciso controlar as fontes de financiamento do terrorismo, que se aproveita dos circuitos legais, como os
offshores, ou o sigilo bancário, para rentabilizar a sua luta.
Ao contrário do que pretendem os senhores da Guerra, é necessário que todas as vias de luta anti-terrorista estejam em aberto e que nenhuma delas seja afastada.
A via única de Washington e seus acólitos só tem um desfecho - o aumento do ódio ao ocidente nas populações muçulmanas. Ódio esse que poderá aos olhos das populações legitimar a acção terrorista . E aí sim, confirmar-se-á o Choque das Civilizações que Huntington profetizou e que serve de ideário para muitos da Direita que governam hoje o mundo.